segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Metade


Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor, Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito. E que o teu silêncio me fale cada vez mais. Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba. E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.E que minha loucura seja perdoada.Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.
autor: Oswaldo Montenegro

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